Não estou habituado à isso, escrever sobre mim mesmo, eu mesmo escrevendo. Não estou habituado nem a esse nome, Francisco, que me deram e eu não sei se sou eu. Me acostumei a ouví-lo, mas é estranho que as pessoas se refiram à mim, chamem por mim, quando dizem isso, Francisco. Até acho um nome bonito, mas não me sinto Francisco – e nem nome algum. Oh, é claro, as pessoas precisam me chamar por algum nome. Precisam? Me chamar? E como é isso, uma pessoa que para sí não tem nome? No decorrer da minha vida comecei até a achar certa graça em ser chamado de Francisco, tem um certa graça pensar: “Ah, então eu sou o Francisco. Para eles, o Francisco.” E quando chego, falam: – Chegou o Francisco. Entretanto quem chegou fui eu, não um “Francisco” ou sequer algo que possa ser apenas uma palavra, ainda que bonita, visto que é uma quantidade enorme de coisas e pessoas, esse eu. Como é restritivo, o nome. Mas, tudo bem, entendo que eu, quando chego, tenho que ter um nome, meu corpo e minha cara têm que ter um nome para que possam reagir quando outro corpo, com a sua cara, se dirigir a mim; só eu é que não posso usá-lo para tratar comigo mesmo, para chamar meu eu. Deve até mesmo haver um Francisco na multidão de eus que eu tenho para mim; mas um só, ao passo que, os outros eus, que vivem fora de mim e que não são eu, mas o que os outros entendem de mim – e, já discutimos isso, são tantos quantos as pessoas que conheço, posto que cada pessoa tem a sua própria versão de mim e de todo mundo –, se chamam todos Francisco.