Eu tenho uma gata. Não, seria melhor dizer que tem uma gata que mora comigo – porque, com certeza, ela não acha que me pertence, antes o contrário. Ela é muito vira-latas. Ela é branca, tem as pontas das patas irregularmente rajadas em cinza, umas pintinhas pelas pernas, as orelhas cor-de-rosa. E é bem magrinha – não, não me olhe desse jeito; a culpa não é minha, eu a alimento direito. Nem dela, que come tudo. Ela é assim. Muita gente já me disse que ela é horrorosa, mas todo mundo concorda que ela é um doce, embora um tanto metida. Ela não gosta da rua porque, quando era pequena, ela foi dar um passeio, ganhou um chute e voltou com a bacia quebrada – ao meio! Dorme de barriga pra cima e ainda gosta de ração pra filhotes. Hoje, eu cheguei em casa e ela tava babando uma gosma branca e tendo convulsões. Depois levantava, dava com a cabeça na parede e caía no chão toda retorcida, mal-respirando líquido com um barulho bizarro. Um bicho de um quiilo e meio.
Porra, agora alguém me diga: por que diados uma pessoa perde seu tempo dando chumbinho pra uma criatura dessas? Por que um cidadão, numa bela manhã carioca, resolve que o bom é chutar um troço tão pequeno? Por que o motorista de taxi, de madrugada, levando um cara com um animal agonizando nos braços ao veterinário 24 horas – que fica só a 900 metros de distãncia – , por que esse filhodaputa erra o caminho de próposito pra descolar mais algum? Hein?
Que merda!
Esse é provavelmente o troço mais babaca que eu já postei. Eu sei. Nem era o que eu tinha programado, desculpem. Mas, porra!, eu não entendo: por que?