Pois é. Assim mesmo. Eu olho pra ele, ele olha pra mim; mas ninguém tem nada pra dizer pro outro. Aliás, até tem, muita coisa, mas nada objetivo, nada ali, que não se tenha que procurar. Muito. [Na sua casa tem muitos brinquedos; algumas vezes você acorda e eles tão todos lá e tudo que você tem que fazer é brincar com eles, inventar o que te der na telha; noutras, eles somem e não há o que te faça achá-los.] Mas pra achar alguma coisa tem que se estar num estado melhor. Continuo olhando pra ele e tenho a impressão de que, nesse jogo de quem sustenta mais o olhar, ele me vence. Nem deveria ser uma novidade, uma vez nunca fui particularmente bom nisso - antes o contrário -, no entanto, perder pra minha criatura? Essa tem sido minha relação com o seudinheiro ultimamente. Esforço. Tô envelhecendo rápido. Outro dia me falaram que eu supervalorizo minha situação; mas, porra, é quando ficamos em casa que as forças nos voltam. Quando ficamos sozinhos. Mas eu, quando volto pra casa, não recupero nada. Ficar sozinho numa casa que não é sua quase não é ficar sozinho. E o pior é que devo tanto dinheiro que não consigo parar de pensar nisso. Ando com o cenho franzido por aí. Tenso. [Tô envelhecendo rápido.] E o pior é que a culpa ñem é minha, pra eu me resignar e me chamar de babaca, encher a cara e depois acordar tranqüilo; não, eu me esforcei. Mesmo assim, nada. Não tô acostumado a isso; toda vez que eu perdi na vida tinha sido por falta de esmero. Agora parece que, nesse escuro em que o Homem passa seus dias tateando, esbarrei numa coisa que pode ser um muro. [Mais cedo ou mais tarde na vida há que se esbarrar em certas coisas] E eu não sou muito de cabeçadas.