Engraçado. Deixaram lá no caixa um comentário curioso sobre o post aí das garças. E justamente quem eu menos esperava... Mas, na verdade, isso só vem provar justamente o que eu tentei ilustrar com o post, o já batido mas sempre pertinente ponto de que a realidade é uma construção subjetiva. Que o mundo não é senão ponto-de-vista e que o conceito de 'verdade absoluta' é uma quimera que não se aplica nem aos fatos ditos 'concretos', simplesmente porque 'concreto' não existe. A única coisa que foge a isso é a morte. Aliás, nem isso, porque, se o cara inventar de cismar que é imortal, a morte deixa de ser real pra ele - apesar de todo mundo saber que ele, assim como qualquer um, vai morrer. Então, quando eu vi lá nos comentários que o meu post tinha sido chamado de 'moralista', me espantei; pode chamar de tudo, de merda, de ridículo, analfabeto, mas moralista? Não cabe.
Talvez eu tenha me expressado mal; eu acho mesmo que sofro disso. Vai ver também, eu não sei escrever. Eu acho mesmo que sofro disso. Mas só o que tentei dizer não teve nenhum fundo social - logo eu, esse ser apolítico -, não defendi nenhuma das duas visões em detrimento da outra, não quis ser correto. A bem da verdade, se tivesse que defender algum das duas personagens, defenderia o narrador, cujo lirismo não deixaria que ele comesse uma garça mesmo que ele tivesse passando fome. E, aí, foda-se quem achar que é filosofia pequeno-burguesa, eu não comeria. Preferia roubar. Morrer. É com o narrador que eu me indentifico - como me indentifiquei com o Sérgio, que tinha uma visão parecida com a da personagem e que foi quem viveu e me contou o caso. Tudo o que quis mostrar é como uma coisa aparentemente concreta, de valor 'universal', como uma garça, pode ser uma coisa diversa aos olhos do outro; como dois homens que olham uma mesma coisa podem ver algo tão distinto. Como eu e a Lígia ao ler meu post.
Mas, de repente, ela tá certa.
É que - eu sei que é pueril - Descartes me encanta.