Teve uma namorada minha que me me disse que Na vida, um troço tão ingreme, a gente carrega um saco pesadíssimo, cheio das nossas ilusões, e que, No caminho, a gente vai perdendo elas, as ilusões, mas que também o saco se torna um fardo mais leve. Disse; isso, e que um poeta lá tinha dito isso – e aqui devo confessar minha ignorância: quem? –, que era pra me convencer de alguma coisa. Ou talvez pra me impressionar, por que, na verdade, ainda estávamos nos conhecendo. Brilhante, não? De uma irônia tão delicada quanto triste, resignada pela compreeensão de que, isso a gente queira ou não, as ilusões vão ficando por aí, nem que tenham que fugir correndo de onde-quer-que-a-pessoa-as-carregue. Mesmo que se lhes prenda. A gente queira ou não. É o tipo de colocação que qualquer ser humano – restando aos outros qualquer condição diversa – compreende. A sua verdade. Até porque, justamente a ilusão que nos abandona mais cedo é a de que poderemos levar nossas ilusões adiante.
Teve uma namorada minha que me disse que, e ato contínuo, eu pensei, Porra, mas aí, com o tal saco mais leve, o cara acaba chegando mais cedo lá – e lá, na vida, todo mundo sabe o que é.
O Homem acaba com suas ilusões.
Algo assim.
(Essa é minha mesmo; ia escrever A ilusão é a medida do Homem, ou O Homem vai até onde suas ilusões o levam, ou mesmo O Homem termina com sua última ilusão, mas achei que a frase escolhida resume essas aí e ainda outras.)
Acaba mesmo.
(Morre. Ou Extermina. As duas coisas necessariamente.)