Pra um estudante de cinema, até que eu falo bem pouco sobre o assunto. Quer dizer, aqui no seudinheiro. Na verdade, isso não me incomoda nem um pouco e, depois, vai que algum daqueles caras da Contracampo calha de aparecer aqui e me torra o saco – aliás, esses dias li uma discussão entre o contracampista Ruy Gardnier e o Fernando Meirelles engraçadíssima. Contudo, rodando por aí, descobri um troço no mínimo curioso: o novo filme Vincent Gallo. Não sou profundo conhecedor da filmografia dele como ator e sequer sabia que ele tava dirigindo. Há uns dois ou três festivais, fui ver o Trouble everyday da Claire Dennis (o site do filme é bem feio!); todo mundo que eu conheço achou um lixo; de repente é ruim mesmo, mas eu gostei muito. O filme é forte, sangrento, quase-mudo e, acima de tudo, estranho. Sem entrar em méritos conceituais ou discussões técnicas e teóricas, reduzindo o filme a impressão que ele me deixou, acho que poderia classificá-lo assim. (É claro que se alguém quiser discutir comigo pelo viés crítico, o e-mail tá aí ao lado – sou perfeitamente consciente dos méritos e deméritos formais do filme e plenamente capaz de justificar minha opinião sobre ele. Seria inclusive um prazer.) Um dos motivos que reafirmam esse estranhamento causado pelo "Desejo insaciável" – aqui se chamava assim – é a escolha do cast, os esquisitões Beatrice Dalle e Vincent Gallo. Talvez por ter gostado do filme, talvez por ter me indentificado com a sua personagem, comecei a simpatizar com a figura de Gallo. Hoje, descobri o site de Brown Bunny, seu mais recente filme. Não sei o que esperar do filme – e não sei se meu juízo é influenciado pela impressão prévia sobre seu autor –, mas o site é muito bonito. Todos os quadros mostrados são bem compostos e de bom gosto, a sinopse atraente – se bem explorada, poderia render um bom filme –, e a escolha da atriz, Chloe Sevigny, me agrada bastante. Além disso, Gallo faz quase tudo no filme – escreve, dirige, produz, atua, é diretor de fotografia e câmera e edita –, proposta que cada vez mais encanta – sou partidário do homem-câmera, do indivíduo-olho, do cinema-sujeito; foda-se a arte coletiva!, acho que o cinema devia ser que nem escrever, eu comigo mesmo. A reduzidíssima equipe me faz pensar que o filme talvez seja rodado em DV ou em película em esquema à la Romher. Outra coisa interessante, no retrospecto de Gallo como cineasta, é sua escolha dos autores de suas trilhas sonoras originais: ele assina duas e outras são do John Frusciante – músico do mundo pop, mas de trajetória bastante peculiar e que eu admiro bastante.
Mas isso tudo não quer dizer nada. Bons quadros, em última análise, são só boas fotos e, a 24 quadros por segundo, a relação narrativa e cronológica entre elas pode ser um péssimo filme. Apesar disso – e do que li por aí –, fiquei afinzão de ver.
Na verdade não importa: esse post é uma enorme perda de tempo, porque provavelmente essa merda nunca vai sair por aqui.
Em Cannes, a crítica disse que é uma merda:"the most hysterical event in Cannes history" e "so autistic, so painfully sincere that it goes off the so-bad-it's-good scale into something else entirely", diz o Guardian-UK.