Por que é que conseguir as coisas que planejamos só nos deixa mais vazios? É que nem quando eu era criança; pensava: a vida é um troço muito chato, mas, se eu tiver aquele playmobil, tudo vai mudar. Como é que a vida pode ser tediosa se eu tiver aquele playmobil? Por que eu pararia de brincar com ele? E não conseguia imaginar o tal playmobil largado com os outros na estante – se ele tivesse lá em casa, seria impossível não brincar com algo tão legal. A partir daquele momento eu *precisava* daquilo pra viver. Daí pedia pra mãe, pro pai, vendia coisa na escola, esperava o natal – qualquer coisa, até conseguir o troço. Ôba! Consegui! Dai eu brincava, vá lá, um mês com a novidade. Depois, estante. Não, na verdade não; havia ainda um período estranho em que eu olhava pro brinquedo. Passava uma hora por dia, as vezes duas, observando interrogativamente o playmobil. O que eu procurava ali era saber como diabos aquele lance tão legal perdera a graça; como ele ia acabar indo pra estante se antes tinha tanto ali; como ele ficara igual aos outros; como? Mas o homúnculo de plástico não me guardava nenhuma resposta em seu sorriso fixo e satisfeito. A resposta nunca tá no objeto – e objeto, aqui, não se resume à definição material da palavra – mas no sujeito. Quer dizer, resposta não; talvez fosse melhor chamar motivo. Algo por aí. De qualquer forma, eu nunca encontrei. Estante.
Hoje o sistema se repete. E isso pra todo mundo, não? Ao conseguir algo que almejo, a impressão que tenho não é de ter ganhado que eu buscava, mas de perder a ilusão de que aquilo me traria algum alento, alguma satisfação; droga. Nem assim? Daí, sorriso de plástico. E estante.
MAIS, MAS NÃO FAÇAM CORRELAÇÃO – TALVEZ AGORA SEJA DIFERENTE
Então há uma editora interessada em publicar meu livro. Tudo que eu preciso agora são 3 parcelas de 1000 pratas. Quá-quá-quá. É quase engraçado. Que que eu faço?