É. O sentimento que hoje me tomou como o vírus Ébola, como um processo infeccioso generalizado, foi o cansaço. Deve ter relação com ser domingo, mas não é só isso. Acho que sinto muito cansaço pra minha idade, cansaço do tipo existencial. Tava lá na Primavera dos Livros, depois de fazer as leituras; eu devia ter ficado contente mas – meu bom humor não deixou ninguém ver – bateu um desânimo... Como se eu assistisse um filme chato pela enésima vez e não pudesse dar um fast-foward... Já conheço a próxima cena, e a próxima e a próxima até o final, mas tenho que esperar pacientemente até o fim da sessão. É mesmo assim: confesso que meu sentimento mais recorrente é o enfado, o agastamento. Das gentes, dos lugares, das ocasiões. De mim, dos meus projetos. Da minha cara, meu texto. Aliás, peço desculpas pelo enfado que lhes causo com esse texto aqui. Vejo meu corpo se desfazendo nessa cadeira em que passo a maior perte de cada um dos meus dias – pois não tenho mais grana pra esporte –, vejo as idéias passando, as oportunidades. Vocês. [Quantos, dos meus poucos leitores, já não vêm mais aqui?] Por vezes, me tomam rompantes de decisão – todavia, eles também passam. É como lutar com um rio, tentar pará-lo. Mas até essa metáfora também já tá cansada, tanto foi seu uso. Não sei mais o que dizer. Gostaria de sentr no corpo o mesmo cansaço que sinto n'alma; aí seria mais fácil dormir e o filme passaria mais rápido. Não é o caso. Mas vou tentar mesmo assim, que amanhã cedo tenho que trabalhar.