(Olha, em 9 meses de blog, é só a segunda vez que eu uso inglês... Nem 10 palavras ao todo... Quem me conhece sabe que detesto. Mas, dessa vez – provavelmente a primeira na minha vida –, fica melhor mesmo em inglês)
STEP INTO THE MONSTER
– Então, Gabu, cê vai ou não vai?
Gabu. Que diabos de apelido é esse? Não sei se é pior o apelido ou o nome. Porque Gabriel também é dose; porra mãe, nome de anjo? Quer troço mais babaca que anjo? Ridículo. Ridículo mesmo é pensar esse tipo de coisa ridícula agora – além do mais, agora. Tô com medo; sempre que eu tô com medo eu faço isso. Eu fujo. Das coisas. Do assunto. Eu sou um idiota. Resolve! Resolve!
– Pô, Vicente, sei lá...
Idiota. Isso lá é resposta?
– Colé Gabu, cê não vai? Não acredito, cara! E Vicente não, Perigoso: agora é Perigoso. Já te falei.
O pano era quadriculado e ficava parecendo um piquenique. O pano desenrolado em cima da mesa, me chamando; o metal me chamando. Bonito a beça. Um dia o Vicente falou um troço... que na verdade, era um milagre mecânico; "Não tem nada eletrônico: tudo é mecânico"; nunca tinha pensado nisso. Visto desse jeito. Mudou tudo. Mas, não dá. Vontade não é tudo. Não nesse caso. Uma arma me dá medo. Não sei se é dela, se é de ter que usar ela... se é de morrer... ou se é de mim com ela.
– Não, Vicente, que Perigoso é o caralho, eu não vô.
– Porra, vacilão! Vâmo lá...
– Dá não.
Daí ele parou um pouco e fez aquela cara e eu, na hora, vi que tinha me fudido. Mas só me dei conta depois.
– Vê só, tive uma idéia: cê leva a automática contigo e fica com ela essa noite. Se amanhã cê quisé, cê devolve. Beleza?
Aí merda. Diz não! É fácil; só dizer não.
Isso foi ontem. Devia ter dito. Mas como não disse, levei o troço pra casa. Não consegui devolver.
– CACETE, GABU! Tu é um merda! Filhodaputa! Comé que cê faz isso, porra?! Se liga!: tâmo de tôca, de berro na cintura, na esquina da situação e tu diz que não vai mais? Tá loco?
– Não dá. Não é medo, mas não consigo.
– Gabu! Cê não pode fazer isso comigo! Vâmo!
– Não vai...
– Porra, cara: agora não posso. Tenho que ir. Que merda! Porra, sozinho eu fico nervoso!
– Cara...
– Relaxa. Foda é que eu sou uma besta. Desde moleque que eu não consigo ficar puto contigo... Faz o seguinte: cê que sabe. Eu vô.
E foi. Eu aqui na esquina olhando, e ele foi. Vai chegando, o carro já tá parado e aberto. A rua deserta. Ele escolheu bem. Baixa a tôca. Ele vai chegando. O primeiro segurança saindo; pra dar cobertura ao outro, que é o que leva a grana. Vicente rende o cara. O outro sai do carro. Vicente aponta pra ele. O homem levanta as mãos. Porra!, da onde saiu aquele outro? Quem é esse viado? Nem é segurança, não tá armado.. Indo por detrás do Vicente. Merda! Se eu... [Baixo minha tôca.] O idiota que resolveu se meter dá uma gravata no Vicente. [Começo a andar. Pelo meio da rua. Engatilho a pistola; ela desliza macio na minha mão. O peso certo. Como eu sabia que seria.] Porra, Vicente. O cara desarma ele. Os seguranças atiram. Meu amigo cai no chão e eles ficam olhando o corpo jogado na calçada. [o contato com o aço][Como eu sabia que seria.] Estranho. Eu não tô suando. [A trava de segurança cede como se ansiosa, a máquina se abandona ao meu controle. Meus dedos estão firmes.] Tô aqui. Agora não tem mais jeito. [Acho que um sorriso involuntário me rouba os lábios] Gabu... Idiota.