Onde? Onde está? Lá fora, no dia que eu tento proibir de entrar ou aqui, no ar viciado desse quarto escurecido? Na cama desarrumada, entre os lençois? Enterrado no vaso da planta meio-morta? Talvez dentro de mim... Talvez no desafio da página em branco. Talvez entre as pernas de uma mulher... Mas qual? Em apenas uma? Todas? É, talvez. Sempre parecem querer me convencer de que está lá, nelas, a resposta. Por outro lado, talvez esteja na minha reticência em acreditar. Estará, então, no meu ódio, que eu, dia após dia, me esmero em conter? Encontrarei no dia em que eu deixá-lo me intoxicar com sua doçura – que é tanta que, eu me lembro, chega a arranhar a garganta? Ou, ao contrário, estará justamente nesse trabalho artesanal, abnegado e infinito de podá-lo, contê-lo a cada momento como alguém que mete a si mesmo, o próprio corpo, como argamassa nas brechas de um dique pra evitar a inundacão? É um exemplo inglório – ninguém nunca saberá do esforço do homem que vai acabar morrendo soterrado por si mesmo –, mas, por isso mesmo, talvez seja uma boa escolha. Onde? No trabalho? Em algo que eu possa construir? Mas não sei nem o queexatamente é. Como é. Sempre tive a íntima convicção de que reconheceria se encontrasse. Pode ser que não. Talvez já tenha passado por mim, perdido. Onde? Aqui, bem aqui, nesse cigarro? Ou no dia de ontem, que me pareceu – aí, então, enganosamente – tão igual a esse e a todos os outros?