Mas faz sentido. Há dias não consigo escrever. Exatamente como hoje. Agora. Faz quase um mês, tem um amigo meu que resolveu que quer se matar. De uma semana pra cá, a coisa tá insustentável. E eu é que sou o filhodaputa que tenho que ficar lutando contra o cara. Logo quem... O menos indicado. É uma maldita partida de xadrez e eu sou péssimo nisso. Nesse assunto. Que que eu devo falar pra ele? Que a vida é doce? Difícil. A psiquiatra faz a parte dela, mas, ainda assim, quase não tá dando. E o cara tá ficando com raiva de mim... Porque fui a favor de avisar a – pouca – família dele, porque chamei a médica e não deixei ele fugir pro exterior sozinho. Mas eu já falei pra ele, cara, foda-se se você me odiar e não for mais meu amigo; não vou deixar você morrer, não vou aceitar, não posso me dar ao luxo de perder um amigo. Nisso, desculpem-me, tenho que ser egoísta. Aí tenho que ficar do lado o tempo todo, olhando o cara. Foda. É o pior é que ele não quer morrer, eu sei. Disso, eu sei. Quem quer morrer age de outra forma. Quer ter família, filhos, o cara. Já me disse. Mas não consegue aceitar ajuda. Foge dos problemas. Só que esse tipo de coisa tem sempre as pernas maiores que as nossas. Não dá: rapidinho nos alcança. Tã sempre lá, no próximo chopp, no próximo trago, entre um comprimido e outro. Eu sei. Quem não sabe? Ele vai ter que enfrentar. E sim, ele vai apanhar do troço; se foder muito. Mas é assim que tem que ser.