Acho que era o 157. Sempre gostei. Digo, de andar de ônibus. A bem da verdade, de 157, especificamente, também. A Lagoa é uma das poucas coisas na vida pra que sempre olho como da primeira vez. Cacete, é incrível; quase acredito que sou uma pessoa melhor. Olhando aquilo. Podendo ver. Então o ônibus ia seguindo e eu também, evoluindo pra mim mesmo esse tipo pensamento inútil, vendo o mundo correr pela janela. Achei engraçado pensar que existem pessoas que são tão bonitas quanto aquela situação – por dentro, quero dizer, não importa o quão idiota possa ser dizer assim, desse jeito. Pois é. Tem gente que é melhor mesmo. Eu que, por algum motivo, consigo enxergar isso, às vezes me pego triste por não ser assim. Se eu não pudesse diferenciar, menos mal – muitos não podem e, creio, a vida deve ser melhor assim; poder errar, ser o mais vil, o mais baixo possível e não se sentir feio por isso. Só igual. Não, não tô falando de culpa. Não é isso. Só me espanta o quanto a beleza pode ser agressiva, como ela pode te fazer sentir pequeno e torto. E vazio. Morto. Feio. Corrompido e podre. Chega! Enfim, eu ia assim quando, de repente, um troço muito estranho. Um instante. O que teria sido? Me pareceu algo que eu já tivesse sentido antes, mas o quê? Foi muito rápido, chegou e partiu e não deu pra ver direito o que era. Até doeu um tanto, mas não deu pra ver. A garganta apertou um pouco: o quê? Não podia ser. Começou a me alimentar uma convicção bizarríssima. Não, não podia ser. Mas, cada vez mais, tinha certeza. Diabos. Não conseguia acreditar.