Será a manga a manga ou o que a faz manga, açúcar, vitamina? Aquilo que pendia das árvores da minha infância, sujava o chão, machucava; que perfumava o bairro todo, me adocicava a boca, e que a molecada toda, eu, roubava? Ou o que aquele homem, que por ignorância chamo apenas cientista, vê no microscópio, na equação química?]
Nesse ponto
aqui
a carne me parece mole, ansiosa.
Por se abrir. Faca:
desabrocha o ventre podre.
Outro cheiro, gosto, textura, cor. Outra coisa? Arranco um naco, extirpa-se o olho marrom e mole. É a manga o que sinto na língua, no olho, no estômago? Ou é qualquer outro troço que eu não sei ver? O que faz da manga a manga? Não é o amarelo exagerado, os fiapos entre os dentes, a dor de barriga de criança gulosa? E]
o pedaço
putrefato
que ora descansa na louça, não é
tempo,
marca do dia,
queda, mundo?
Estado da forma e também do conteúdo, mudou tudo. Se não fosse o amarelo, o fiapo, a dor, a infância, seria a manga? É que a forma faz o conteúdo, assim como o conteúdo determina a forma. Não? Achava. Mas saber… Toda a fruta, em pedaços, agora dentro]
do liquidificador,
o marcador corre desl. pra 1,2,3, até o 5.
Sempre me foi conforme,
o máximo.
E o amarelo
estria a água, raia o jarro,
toma tudo.
Nem Van-Gogh. Agora uma coisa só. O quê?
Já nem sei mais separar, fiapo-infância, carne-dor, chão sujo.