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Seu dinheiro de volta!
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18.5.04
ANTES DE TUDO, QUERIA DEIXAR CLARO MAIS UMA VEZ:
EU NÃO ESCREVO POESIAS.
QUANDO MUITO, FRASES QUEBRADAS.
Não sei bem como começar.
Podia vir aqui e dizer
a verdade.
Sobre um homem que virou ar.
Alguém que ficou preso
num minuto que passou
e passou
soterrado
debaixo de muitos outros minutos
e dias
e anos.
Ou contar
sobre a vida
– você sabia?,
ela carrega sempre uma garrafa de cerveja pela metade
e sorri pra qualquer um,
mas
eu simplesmente não consigo ficar no seu campo de visão.
Ela me parece muito cansada,
mas tem sempre um brilho qualquer
no rosto delicado
que é uma troça do meu –
de traços finos e,
contudo,
mal-lavrados.
Ela atende um telefone,
um outro alguém a olha de longe,
com pesar;
e eu nem faço parte da história.
Podia vir aqui e dizer qualquer coisa.
Mas minha cara-de-pau
já não é bastante.
Muito menos pra verdade.
O peso da inexistência,
o peso do não,
o anti,
mantem minhas costas curvadas,
minhas mãos roçando no chão
e meus pulmões, vazios de certeza,
não têm senão esse assunto,
sempre o mesmo –
você não se cansa,
não se exaspera em vir aqui?
O que quer que eu diga
me deixa a boca,
a barreira dos dentes,
de um só jeito,
enfadonho,
monocórdio.
VAI! AGORA! VAI EMBORA!
Enquanto ela ainda te deseja!
De ombros soltos, altiva, embriagada!
Descalça no palco de madeira,
ela e sua nova meia-cerveja.
Me deixa aqui,
debaixo dos anos,
e das verdades que não têm mais uso:
Juro, não digo mais nada.
Nem posso.
Um fantasma me estrangula.
posted by franciscoslade
2:43 AM
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