Vez por outra, uma certa transparência. E nada que assuste mais. Tenho medo, levanto, bebo água. Lavo as mãos. As unhas sujas debaxo do filete na pia. Não adianta. Tudo, o gosto ruim de sempre, sempre; o apito no ouvido; as manchas de luz na vista; o ódio, a lubricidade. Há um motivo – claro, sempre há. Do mesmo, modo, sempre aqui. E, vez por outra,
uma certa
transparência.
2
Mas é difícil aceitar certas coisas.
E todo problema tá aí.
3
A matéria da vida é só a adaptação.
Ao tempo.
A si.
À biologia.
Não é à toa que o tempo verga o homem,
rouba-lhe altura,
faz-lhe a velhice curvada,
o coração raso,
e o olhar pesado
que
só encarar o chão.
E se não cabe? Se não amacia?
O que não se deforma na velocidade adequada?
E o que não serve?
Pois há o que é feito de outra coisa,
de material barato;
de matriz inferior,
liga torta de metais ruins.
O que é
simplesmente pior.
Objetivamente
– a prática da vida é a objetividade –,
pior.
Em prática e matéria.
Não digo,
– não posso –,
que talvez eu não tenha temperado
metal
com mais impurezas
além da quantidade descabida que ele já trazia consigo.
Não;
afinal,
tanta coisa trancada tanto podre feio tanto fungo e muco muito que se estraga de uso e o que nem tão vil (mas que pobre) e que estraga apodrece suja azeda gasta também.
Se eu tivesse coragem,
pediria desculpas a mim mesmo.
5. não, não errei o número.
Mas, apesar ser próprio dela,
seria tolice ainda maior,
negar o fato agora nu:
é matéria
rígida onde devia flexível;
feia
sem encanto e sem utilidade.
Que não retém
e também retém demais.
Porosa demais, áspera demais
e nunca no pouco em que é preciso.
Muito opaca.
Muito exposta.
Qualidade,
a mais baixa:
é só isso.
E não,
insistência
orgulho
resistência
rigidez
nada disso,
implicou em durabiliadade.
Calor e frio a umidade contínua a natureza oxidante do elemento porrada porrada porrada queda e chão infiltração e mais tudo que é tempo
,
carcomem rápido o material,
escurecem.
E o que não se acomoda,
se quebra.
Não, isso aí não presta, isso aí não é bom não!
(amigo, o senhor devia ter levado outro; trocar é impossível!)