Tristeza não é um sentimento. É um ponto de vista. Melhor, uma lente.
A tristeza não é, aliás, tão triste; triste é ser triste.
Muitas vezes acho que é isso que não cabe; isso que o dia não comporta; que não encaixa.
Ou talvez o mundo é que não caiba aí. Pouco material pra ilustrar o homem?
Talvez. Às vezes me parece que o homem é maior desse lado de cá do olho.
Mas é dificil julgar. Meus olhos nunca trabalharam corretamente. E tem a lente.
Preciso de uma ponte de safena nas minhas palavras, minhas vias de comunicação estão entupidas.
Cada vez mais barulho aqui. E mais silêncio.
Outra coisa que aprendi é que silêncio nesce justamente do barulho.
Que não entra.
E também do que nunca soube sair. Porque o ruído muito escutado, o som de superfície espelhada, desaparece.
A capacidade humana de adaptação me surpreeende a cada dia; realmente, um som sem começo nem fim deve ser desesperador. É preciso não escutar. Esquecer. Envelhecer. Condescender.
Biologia tempo silêncio.
Há dias ouço e persigo – sou perseguido – por um som que eu não sei se é um mosquito que não vejo, excesso de trabalho, ou loucura. Há dias não ouço um som que eu não sei se.
Mas vez por outra soco o ar à minha volta só pra garantir.
O motorista do taxi me leva pela madrugada. Não pára de falar. Vejo sua boca se mexendo e não escuto nada. Talvez isso não me incomodasse tanto se eu pudesse ouvir o que ele diz. Pára! Não posso; será troça? Será que ele não fala nada? Será que ele fala nada? Ou sou eu que não escuto. Que só escuto.