[sabe, você sabe, eu tenho esse problema; o que se descola não deixo, não esqueço. E cada página pesa ainda como se fresca. Mais: se virgem. Mesmo que eu leia errado, que eu não reconheça, é no silêncio de mim mesmo, seja onde, que tudo aflora, brota continuamente na estação da memória - que pode muito bem, dependendo de como vejo, ser também a chaga da dúvida.]
Certeza mesmo
só a falta de opção,
pois é certo
que onde há mais de mim
é no erro que não maculou papel,
na idéia que não chegou
a virar tempo
e que o tempo levou.
Mas.
Sempre há (quase acredito);
tem uns dias em que eu
também
esbarro com meu próprio cão sem plumas.
Não atino
Se o meu sonho, sangue (grosso-resinoso-escurecido de ...amor?)
ou o dele
- também aqui falta medida.
Sei que é um cão que
fede
e manca
e caduca
e tem os olhos vermelhos e gordurosos
e saliva sem descanso
tem o sorriso banguela mais bonito do mundo,
tudo que eu posso querer conhecer.
É, eu também tenho o meu.
Fraco, pulguento, feio, menor. Vadio.
E no entanto, são só meus dedos que ele lambe
ávido
lambe.
Só a mim que ele procura
e evita.
E só da minha carne
é que ele se alimenta.
[Nossos encontros têm-se tornando tanto mais raros quanto exasperados]