Acho que sei por que não gosto – não sei – escrever de luz acesa. Mas, pra dizer, precisei estar aqui, escrevendo assim, as pálpebras pesadas da lâmpada de 60 watts, o amarelo escorrendo por mim, pelas paredes. Provavelmente – que diabos de chavão é a vida, não –, provavelmente porque certas coisas não conseguem deixar de se tornar evidentes demais. A começar por tanto – ... – em mim. Não. Isso não é nada; isso talvez fique claro demais mesmo no reflexo raro e opaco na tela do monitor.
Há que seja pior. Por mais difícil que.
É o dia. Sempre ele, o grande vilão dessa minha história; ele, ainda que o grande antagonista de tudo que apodrece na vala comum da condição humana, ele, meu inimigo particular. Sempre tantas batalhas, não é? Tantas que até desisto de fugir a essa maldita expressão – pois que seja: batalhas. E cada uma já tem seu fim escrito de antemão. Eu perco. Eu, o homem.
Curioso pensar em envelhecer dessa forma: a obviedade de desistir de contendas que não se pode vencer. É abrir os olhos e perder; pro próprio corpo, pra pele, pra degeneração dos orgãos tecidos músculos ossos, pra cada aspecto da maldita biologia, pro cansaço, pra repetição, pra rotina, pra falta de novidade, pro uso, por desgaste moral. Ou algum dia eu achei que, só por hoje, não vou perder paciência força fôlego engordar ficar careca? E, depois de um tempo, eis que o sujeito pára de lutar por aquilo que não tem prêmio. Deixa de se exercitar tomar o remédio pro fígado passar o tônico capilar correr acreditar amar. Só porque faz sentido não lutar contra algo que não pode ser vencido. Só porque lutar até aquele momento não trouxe nada, não fez mais que protelar a derrota definitiva sem, no entanto, nem ao menos evitar cada derrota diária.
Nada parece mudar. O resultado à noite é sempre o mesmo. Só que com menos esforço se eu parar.
E assim acaba alguém. Todo e cada um.
Nunca tinha visto assim. Viver é se obrigar a entrar na porrada pra apanhar, dia após dia após dia. Até. Não é mais fácil se eximir? Pois é... Às vezes as respostas ficam tão claras... Deve ser esse o problema dessa luz, assim, me acachapando o ânimo e a vista. E eu, que no escuro tantas vezes me peguei escrevendo que temos que lutar certas batalhas mesmo sabendo que não podemos ganhar, só por acreditar... E eu, a quem é tão caro o cliichê do sacrifício, ainda que vão, da abnegação burra mas heróica... Só que, a cada acordar... Mais simples seria esperar. Beber. Aliás, qualquer coisa, menos escrever. De luz acessa.
É por isso, mesmo depois desse texto desastrado pela falta de prática, que resolvi voltar a escrever todo dia. Espero consertar logo meu abajur.