Seja sincero, você sabe que nunca viu alguém assim, um homem com tanto amor quanto você.
Eu sei, às vezes parece que não. Mas calma: não é falta de modéstia nem de pudor consigo mesmo; não é pretensão, compulsão;
não é descaso.
Também não é alegria, hedonismo, satisfação, resposta:
amor é só uma solidão que não se passa sozinho e que ,às vezes, faz sorrir à beça.
Você lembra que eu te disse? Que esse troço era assim? Que não há objeto: o desejo só deseja o desejo.
Lembra? Que eu falava daquelas mulheres lá fora? Delas e dos seus cigarros? Você não sabia. Achava que a noite não te guardava parte alguma de si. Arregalava-se, muito impressionado. Vez ou outra, acho que você não acreditava no que eu contava. Que podia sim o mundo engolir as pessoas nos corpos de outras pessoas, em suas almas, em suas recusas de olhares oblíquos; que podia tudo dar errado. E também não. Aí você se assustava mais – e os olhos que iam cair! É, eu acho que você não acreditava. Que um dia você ia andar os passos que eu te contava. Talvez a vida toda.
Mas se acalma. Se aquieta. É só uma palavra meio feia; amor é só uma música que mal se ouve – escuta? – e que todo mundo insiste em acompanhar.
Desafinos. Os seus. Mas e quem sabe se – tenta ouvir mais um pouco, sem medo, tenta seja o que for que você ouvir – na sua desarmonia, na dissonância cava e quase muda da tua voz sumindo no coro, não é com essa música baixinha que você tá afinado?
Aquieta, perceberam mesmo. E te dizem caso perdido. Com certeza.
Te dizem louco. Cê sabe que não, por humildade. Mas, se dizem, seria mesmo melhor.