Sei já que não sei o alcance dos meus braços; mas isso te machuca; você me pede pra mentir e te apertar.
[Um dia pensei que minha pretensão talvez fosse carregar gente pra fora de um incêndio. Que, pra não morrer queimado como aquele amigo do meu pai – medo de criança, sabe? –, eu tinha que levar mais e mais gente de uma vez só. E, depois, ninguém pode mesmo fazer duas viagens. Achei que não: eu é que não conseguia sair de lá, que fui pro lado errado. Algo assim. E, depois, quem sou eu... Queria perguntar: será então o contrário? Arrasto quem consigo pro fogo?]
Porque não posso abrigar o mundo inteiro – eu disse um dia. Mas queria poder?
Quanto à fome, bem, talvez ela possa acabar, afinal. Talvez ela tenha tamanho. Mas isso é bom?
Você gostaria de um homem sem fome?
Sobram só mais duas questões.
É pequena a medida daquilo que vêem meus olhos. Talvez seja a única que eu conheça. Contudo, não saberia dizer se é certa.
Você insiste em me dizer que não. Já quase acreditei. Mas senti como se, assim, te fizesse falsas promessas.
E, pense bem, seria justo: a estreiteza do caminho pela estreiteza desses dois rasgos escuros que me mostram o mundo; pequenez por pequenez.
Finalmente, as pernas. E é isso que, você não entende, eu quero descobrir. O quanto. Até onde. Se rápido.
E em que lugar.
[Você me diz que não gosta do lugar onde me coloco. Se me coloco algures, é por quei ali me vejo. E, se você não me vê lá, também não é só porque o lugar em que você me enxerga é outro? Sou eu que me enxergo num lugar em que não tô ou você que não me enxerga bem do lugar de onde você olha?]
O fato é que não posso não procurar. Não me peça isso. Nem meça minhas pernas pelas suas.
Descendo a escada, emburrada, você, de tênis desamarrados, faz a vida parecer um de meus textos – bobos e tristes – quando pára pra que eu te ajeite os cadarços.
Talvez a coisa mais bonita que alguém já esperou de mim. De qualquer pessoa.
E eu poderia tomar o tempo que quisesse pra amarrá-los, eu sei.
Você esperaria. Mas tenho que te contar:
(olha a quem você foi pedir ajuda) eu não sei dar laço.