Realmente, eu sou um idiota. O maior. Um estúpido. Pior: um romântico.
Ela marcou comigo em frente ao bar. Tava a uns trezentos metros, pouco mais, numa outra biboca mais pra lá. Me disse que tava vindo. Quando deu tempo de ela ter ido e vindo cinco vezes, comecei a me preocupar. Ela é frágil, ela tá doente, em jejum. Ela precisa de mim. Essa área da cidade não é das melhores. Talvez tenha acontecido alguma coisa. Droga! Devia ter combinado de buscar a menina lá. Então saio correndo – correndo mesmo, no meio das pessoas vestidas pra mais uma noite desperdiçada, feito o maior dos idiotas. Refaço o provável caminho dela enquanto tento, procurando me desdobrar em dois, cobrir o outro caminho possível com os olhos aflitos. Penso com sinceridade: não quero que nada de ruim aconteça com ela. Amanhã tudo vai começar a andar; amanhã começa algo diferente. E quanto mais pensava nisso, mais me exasperava. E mais esperava que tudo estivesse bem. E mais corria. Amanhã.
Quando cheguei à frente do outro bar, tava ela lá, calma e sorridente. Mais uma vez me deixou esperando. Mas a bronca que dei nela foi mais de alívio. E de ternura – ainda que eu tentasse alguma rispidez. Preocupado por nada; só mais um furo, mais uma falta de consideração dela. Contudo – segredo! – eu tava feliz. Nada tinha acontecido.
E eu entrei no bar com ela, de mãos dadas.
FIM
Parece cena de filme ruim, alguma comédia romântica açucarada, né? Bem mais fuleiro: foi verdade. E não acabaria bem, essa cena sofrível.
Era tudo mentira. Tudo. Tudo.
Por quê? Será ódio? Será só maldade? Ou é pequenez mesmo?