Tem a ver com tempo. Com velocidade. Antes de qualquer outra coisa.
Tudo mais lento.
Gostar de falar? Eu gostava. Lembra. Mas acho que vou ficar um tempo calado.
Perdi o tempo e o gosto.
Enquanto isso, o asfalto lambe as solas dos meus pés e meu suor sempre abundante, as pálpebras.
Você disse. Talvez eu tenha mesmo a temperatura um pouco elevada; o estado febril constante, alguns graus a mais. E umas idéias.
Os dias escorrem pela parede e me pesam nas sobrancelhas.
Falha qualquer disciplina. Tenho vontade de roubar.
Andam devagar nas ruas, as pessoas; Não, não tem ninguém nas ruas.
Andam de vagar dentro de mim as horas. Tanto que quase não andam.
Desentendo grande parte do pouco que antes.
Quando esquenta assim, quando essas noites quentes, as baratas infestam a rua, olhos nos postes. Me encaram.
Não, não tem baratas ainda. Postes não têm olhos.
Desentendo o que antes.
Quente assim, as pessoas sentam em frente às suas casas e vêem passar a vida. E as baratas.
Não, as pessoas não fazem mais isso. As baratas, cê sabe, ainda não saíram.
E a vida, essa não passa; essa, só chega um dia em que termina.
Não! Claro que passa. Rápido. E, aí sim, termina.
O que não passa são as horas.
Não chegou ao mundo ainda. Ou é outro.
Não sei; sei que um deles arrota pessoas e baratas – nem enxergo mais o que é o quê. E postes. E que tem a ver com gosto tempo insetos estupidez lentidão ruas e, putaquepariu, calor, que calor!, tudo meio úmido. Então lubricidade. Um amarelo estranho. E aí tempo de novo.
Sei que durmo muito e mal e que falo pouco e pior.
Impulsos lentos e constantes. Isso é o que é a estupidez. E a lubricidade. Isso é o que me acomete.
Será Deus mexendo sua língua gorda e salivando sobre o mundo? Mas Deus não. E as ruas vazias.
Olha!, parece que tá tudo bem: os vizinhos riem na madrugada.