Uns tantos anos e ninguém pra me enterrar. Tenho ânsia de te devolver a existência.
Nåo sei mais falar. Perdi o jeito e o hábito que nunca tive. Não consigo sair nem aquele pouco; me sobe ao fôlego, engasgo disso. Eu faço mais, vou mais longe, eu tô quase lá.
Mas daqui de tão longe, quem me vê?
Medo de sufocar – e como falar de outro jeito?
Eu não sei pedir, já disse: não vou. Mas as coisas são de um jeito agora que algo em mim, algo que pela primeira vez tem medo, encurralado, os olhos muito abertos, pede, grita e ameaça estragar tudo – tudo! – derramando vida e me emporcalhando a casa e as páginas.
Se de minha boca fechada sai essa voz! Me obriga a correr, a sair mais cedo, fugido, – Ei, mas o que você disse? – Como assim? – Você o quê? antes que eu não consiga mais segurar, esconder, antes que alguém ouça
e eu peça.
A história não poderia acabar assim. Nosso herói, canceroso, tinha um lobo guardado no ventre, um cuja única fome, a simples função, era devorar a própria jaula, aquela que lhe permitia a vida, e morrer.
Esse animal, seu corpo, pele, ossos da matéria suspensa do lusco-fusco, nem cinco minutos antes, nem cinco depois, tão específico, tão preciso – e a gente mesmo assim não sabe quando começa e nem quando termina –, esse bicho, a que alguns chamam crepúsculo, outros (impossibilidade), esse, magro, a carne curtida e aquela água preta e funda e escorrente nos olhos – esse bicho aí!, porra!,